terça-feira, 22 de julho de 2008

A história sempre se repete... (II)

Em continuidade à serie "A história sempre se repete..." trouxe um texto interessante do jornal Valor Econômico reproduzido abaixo, que tem certa relação com o assunto que dissertamos.

Antes disso, gostaria de acrescentar que a economia, o fluxo econômico e por conta disso o mercado financeiro são cíclicos, ou seja, possuem expansão e retração sucessivos, para por conseguinte ter uma nova expansão e retração (no curto e medio prazo. O resultado do conjunto destes movimentos no longo prazo pode ser tanto uma expansão como uma retração, o que se conclui disso parece óbvio, Existem ciclos nos três períodos (curto, médio e longo prazos).

Um dos problemas do iniciante e ate mesmo do investidor comum e não iniciado em Ciências Economicas é compreender a existência destes cíclios. - existência (sic), pois compreender porque e como eles ocorrem é complexo até para economistas experientes -.

Uma evidência empírica e de fácil compreensão destes cíclos é como citado na matéria abaixo, no trecho que se refere "Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos!". Se a história se repete e sempre ocorrem estes movimentos, logo, são cíclos.

Uma imagem e um ditado que valem muito...

Alexandre E. Santo
Em 18 de julho, uma foto publicada na página C2, no caderno de Finanças deste jornal, reforçou meu ceticismo em relação aos mercados. A matéria, em que a foto se insere, relata o episódio de violência ocorrido às portas da bolsa de Karachi, no Paquistão, após mais um dia de quedas, já contabilizadas em mais de 35% no ano.

Meu saudoso pai, que gostava de investir em ações, sempre usava uma frase lapidar sobre a bolsa: "Compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos!" Após 22 anos atuando como profissional de investimentos, ter estudado com grandes mestres, lecionar matérias de Finanças e Economia, ainda penso que a frase tem um enorme sentido prático.

Elementar dizer que para se ganhar num investimento é necessário vender o ativo a um preço superior ao de sua compra. Portanto, uma estratégia vencedora nos mercados, no longo prazo, é buscar antecipar-se aos movimentos de reversão de tendência, pois, assim, o investidor estará comprando no fundo (quando os canhões estão prestes a emudecer) ou vendendo no topo (quando os violinos pararão de tocar). Simples, não?

As bolsas de valores representam, em última instância, um ótimo termômetro das condições econômicas. Se a economia vai bem, as empresas estão investindo e lucrando, o que se reflete em bons dividendos e alta das cotações em pregão. O mercado acionário fica atrativo, muitas empresas fechadas fazem seus IPOs (oferta pública inicial, em inglês), trazendo mais dinheiro para o mercado, num ciclo virtuoso. O inverso ocorre no caso de vivermos períodos recessivos, quando os lucros minguam e as ações perdem valor. Mais uma vez: Simples, não? Nem tanto...

Há dois pontos de extrema relevância, que complicam tudo. O primeiro deles está no comportamento psicológico. De uns anos para cá, o estudo que envolve essa área, dentro das Finanças, vem evoluindo e ganhando muitos adeptos. Tentando resumir, grande parte dos investidores não age de forma totalmente racional, ao não considerar, por exemplo, o famoso binômio risco-retorno (não somente ele, que fique claro). Muitos entram na bolsa por que seus amigos, familiares (todo mundo!) estão ganhando dinheiro. Por quê? Os jornais estampam manchetes com as altas espetaculares e o sujeito, que não participa desta "festa" na bolsa, se sente, psicologicamente, um tolo, pois seu dinheiro está na renda fixa, rendendo (somente?) 1% ao mês., ou na caderneta, que tem rendimento ainda menor, mas sem riscos. Resultado: Sente-se impulsionado a experimentar o mercado, mesmo sem compreendê-lo muito bem. Como ouvi alguns dias atrás de uma aluna: "Risco? Se meus colegas estão ganhando rios de dinheiro, então vale. Vou comprar Vale." Recentemente, aqui neste espaço, Fábio Carvalho escreveu um excelente artigo, abordando a questão do risco associado aos investimentos em ações.

O outro ponto relevante é a economia, e suas análise micro e macro. Os analistas fundamentalistas, autores dos relatórios de indicação de compra ou venda (micro), possuem muita influência sobre o mercado, especialmente os de grandes bancos. Mas eles não são os donos da verdade; como bons seres humanos também erram! Recordo-me que poucos meses antes da primeira eleição de Lula, quando o câmbio estava indo para R$ 4, ouvi de um deles a indicação para vender toda a posição de Usiminas, pois a empresa poderia, no limite, quebrar, face sua exposição cambial. Pois bem, de lá para cá, as ações da empresa valorizaram-se incríveis 730%. Isso ocorreu porque ele errou no cenário macro, não antevendo o atual boom econômico.

Fazer análise macroeconômica provoca uma certa angústia, pois, em algumas vezes, o analista estará antecipando a reversão do quadro vigente, enquanto a maioria das pessoas ainda "surfa a onda". Assim, lhe consideram um otimista/pessimista exagerado. Em outras palavras, ir contra o pensamento dominante dá um certo desconforto, pois como a dinâmica macroeconômica é própria, fica quase impossível acertar o timing da reversão. Porém, como gosto de dizer aos alunos, "não busque acertar a mosca". Antecipar-se, em alguns meses, permite que as novas estratégias a serem adotadas possam ser definidas com a devida prudência, sem a pressão dos acontecimentos.

Desde o final do ano passado que venho opinando, nesta coluna, sobre o fim do atual ciclo de bonança. Somente nos últimos dois meses que os mercados de ações começaram a sinalizar dias piores. Penso que, infelizmente, não serão somente os paquistaneses que poderão perder parte de suas economias com ações. Os próximos meses serão difíceis para os mercados no mundo todo; será preciso muita cautela.

Alexandre Espírito Santo é diretor do Curso de Relações Internacionais da ESPM/RJ e economista-chefe da Plenus Gestão de Recursos

0 comentários:

Disclosure

Este blog possui caráter meramente informativo e/ou de pesquisa. Comentários feitos aqui não representam recomendações de investimentos e o autor se exime de qualquer responsabilidade pelo uso de informações aqui disponibilizadas.

O material publicado neste blog quando não indicado de forma diversa é de propriedade do site EspeculadorFinanceiro.com.br, é permitida a reprodução desde que citada a fonte. Cópia, edição, distribuição, ou plágio é passível de punição nos termos da lei vigente.

Autor

Um pedaço de informação sem contexto, é somente um pedaço de informação. roberto(arroba)especuladorfinanceiro.com.br